> São Paulo, 2003
…O antigo contestador deu lugar ao artista maduro, escravo da sua paixão pela pintura. Um artista que tem seu lugar garantido na galeria dos nossos grandes pintores.
Aldir: o amante das cores
Aldir está comemorando 40 anos de pintura. Ninguém nega que ele seja um amante fiel das cores, exercitando-se no jogo sensual de cada quadro. Há uma certa lascívia na maneira como ele envolve as tonalidades , umas nas outras. Com bom humor e sensibilidade, ele vai construindo seu mundo colorido, sua felicidade ao pintar e que vai transparecer para o expectador: são de uma alegria impressionante seus tons laranjas e vermelhos; sua delicadeza concupiscente nos azuis e preto noturnos, sua solidez nos tons terra e marrons. Um mestre da cor.
A geometria, conseqüência natural das paisagens aéreas, ajuda o artista no jogo lúdico da composição e no desnudamento da sua profunda intimidade com a forma.
Foi assim, desde o início, em 1960, quando ele começou com suas pinturas musicais, em que tentava captar o movimento e o ritmo dos sons, que uma banda emitia, diante do espectador. O sentimento jovem amadureceu no correr dos anos e reapareceu nos quadros de hoje. Não foi à toa que, na exposição na Pinacoteca do Estado, em 2001, poemas de Augusto e Haroldo de Campos, e de Décio Pignatari, musicados por Cid Campos, ilustraram a performance de Ana Lívia Cordeiro e Gícia Amorim, que dançavam nas composições colocadas no chão, cobertas por resina plástica transparente. A paisagem aérea pisada e sentida pelos pés, ao mesmo tempo, refletida nas dançarinas. Tudo a ver essa integração música, escultura, pintura.. Os quadros de Aldir são verdadeiros poemas pictóricos.
Ele teve outras fases, claro, como todo artista, à procura da melhor maneira de se exprimir: os cafezais e as cidades, os mais significativos, e as composições para chão, com concreto colorido.
E, dado curioso, Aldir sempre foi polêmico e contestador. Querem um exemplo? Em 1967, expôs na IX Bienal da Cidade do Futuro, aproveitando sobras de máscaras de gesso, magueiras de borracha, argila. Obras tridimensionais que ele simplesmente destruiu, a machado, no final da exposição: um precursor da arte perecível?
Em 1972, Walter Zanini, então diretor do MAC, num gesto democrático, quis sortear, em vez de selecionar, os artistas participantes do IV Salão da Jovem Arte Contemporânea. Aldir não foi sorteado e, polemizando com o critério, fez um painel, que colou nos vidros da rampa do Museu, com recortes dos jornais onde aparecia como um terrorista mascarado e reproduções da Mona Lisa amordaçada.
Médico (cirurgião plástico), aproveitou seus conhecimentos para, em 1970, usar chapas radiográficas, fazer múltiplos de temas orgânicos – feto, coração e pulmão -, esculpidos em silicone e levitantes em óleo mineral, dentro de esferas de acrílico colorido, além das termografias.
O cinema também atraiu Aldir, que fez vários curtas, um média e dois longa metragens – O Homem que Descobriu o Invisível e O Trote dos Sádicos.
“Críticos X Artistas” marcou uma experiência inédita, a de retratista, em 1983. O Museu de Arte Brasileira, da FAAP, adquiriu os quarenta retratos para seu acervo.
Em 1984, ele teve a idéia de fazer 15 cópias serigráficas de uma paisagem aérea, que foram afixadas em outdoors pela cidade. Uma dessas reproduções ele colou no tapume do Museu do Louvre, quando a pirâmide estava sendo construída, para divulgar sua exposição na Galeria Debret, em 1985. Nessa exposição o pintor Cícero Dias comprou um dos seus quadros.
Influências? Quem não tem? Mas em Aldir, as influências são homenagens : Volpi, Ianelli, Sacilotto e Fiaminghi. Quem mais? A admiração do artista mais jovem pelos mestres e amigos inspirou as pinturas aldirianas. Mas as inspirações resultaram absolutamente pessoais. Pintor concretista? Eu não diria, apesar de se aproximar, e muito, do movimento literário. Haroldo de Campos escreveu um belo poema sobre a pintura de Aldir, para a exposição comemorativa dos 30 anos.
Alberto Beutenmüller ao escrever sobre Volpi, Ianelli e Aldir no livro 3 Coloristas, em estudo primoroso, refere-se à tendência construtiva da arte brasileira, de sua origem nos signos míticos e místicos. “…O índio brasileiro sempre sintetizou a natureza , mediante o emprego de símbolos geométricos, buscando um sincretismo de fôrmas e formas”. Mais adiante, o crítico analisando a obra desses três artistas, diz que Aldir foi “buscando a cor e realizando a cor como único conteúdo de pintar”.
E a geometria, sem a qual não sei que rumos a obra de Aldir tomaria. Não a geometria matemática, mas a emocional e original. Uma geometria própria, com curvas sinuosas, vulvas concretistas e pontos de fuga imaginários. Jogos lúdicos para melhor motivar suas composições abertas e seduzir suas cores pigmentadas.
O antigo contestador deu lugar ao artista maduro, escravo da sua paixão pela pintura. Um artista que tem seu lugar garantido na galeria dos nossos grandes pintores.
> São Paulo, 31/05/2003
Aldir Mendes de Souza leva uma vida dupla: médico formado, é também artista plástico premiado; uniu as duas carreiras nas intervenções em raio-x da mostra “Obsessão pela Cor”, que também virou livro e inaugura um espaço cultural nos jardins no dia 03.
> São Paulo, 04/03/2003
Nesse jogo de variações incessantes de formas e de cores, Aldir começou também a explorar dois temas científicos: O Big Bang e o Buraco Negro, agora, uma maneira de realçar ainda mais os movimentos – expansão e contração, uma serie de também geometrias que podem ser vistas em maioria na Galeria Arte Aplicada.
> São Paulo, 06/06/2003
Artista, que tem a cor como elemento central, expõe trabalhos dos anos 60, 70 e 80.
> São Paulo, 21/03/2003
Formado em medicina, o artista já participou de cinco Bienais de São Paulo, nos anos 60 e 70. No Masp, ele mostra 60 pinturas geométricas, além de duas obras figurativas da década de 60.
> São Paulo, 2002
Nos últimos vinte anos, a pintura de Aldir tem sido um permanente diálogo entre a abstração e a figuração. Na verdade, ele parte da paisagem, da terra arada, do cafezal, que foram seus temas do começo. Mas os transforma em superfícies geométricas e ritmos de cores, nos quais a referência à natureza pode, quando muito, sobreviver na sugestão de pontos de fuga e horizontes.
A certeza de que dois e dois nem sempre são quatro
Nos últimos vinte anos, a pintura de Aldir tem sido um permanente diálogo entre a abstração e a figuração. Na verdade, ele parte da paisagem, da terra arada, do cafezal, que foram seus temas do começo. Mas os transforma em superfícies geométricas e ritmos de cores, nos quais a referência à natureza pode, quando muito, sobreviver na sugestão de pontos de fuga e horizontes.
O resultado mais recente desse diálogo são as junções, em polípticos, de telas originariamente independentes, gerando uma Gestalt inteiramente nova e de índole fundamentalmente abstrata. Primeiro, foram os “quartetos”, NOME QUE Aldir deu à construção de quatro quadros ligados por um centro visual, do qual as antigas linhas do horizonte se afastam como raios luminosos. Mais recentemente surgiram os “duetos”,dípticos que em movimentos em arco se insinuam, ligados em cima pelo vértice.
Se lembrarmos que foi com um quadro colocado acidentalmente de lado, no cavalete, que Kandinsky descobriu a abstração, e que foi por um progresso semelhante que Volpi chegou à sua composição chamada de ogiva, percebemos que se trata de mais que um simples jogo. São investigações sobre limites e ausência de limites, sobre procura e achados, sobre os recursos da criação com a própria criação. Enfim, sobre aquela certeza de que em arte dois e dois não são, inevitavelmente, quatro. Mantendo-se no âmbito construtivista que baliza sua pintura, Aldir quer inventar, dentro dela, novas e infinitas soluções.
> Osasco, 2004
O fato é que, ao longo de todo esse tempo, a matéria-prima de suas pinturas foi sempre a cor, concentrada em formas ora orgânicas ora geométricas que, em tempos mais recentes, resumem-se basicamente a retângulos dispostos obliquamente no plano, impregnando-o de excepcional interesse ótico: delimitadas por linhas retas ou arqueadas que se entrecruzam, sucedem ou recortam, as formas coloridas dos quadros de Aldir fazem com que suas obras pulsem ou palpitem, como seres vivos.
Tendo começado a pintar no início da década de 1960, Aldir vem aprofundando uma pesquisa que a princípio o levou a enfocar a cidade, com suas construções, e o campo, com seus cafezais. Em seguida desdobrou-se em diferentes fazes, sem que jamais seu objetivo fosse meramente o de reproduzir ou duplicar a realidade, e sim criar uma realidade pictórica.
O fato é que, ao longo de todo esse tempo, a matéria-prima de suas pinturas foi sempre a cor, concentrada em formas ora orgânicas ora geométricas que, em tempos mais recentes, resumem-se basicamente a retângulos dispostos obliquamente no plano, impregnando-o de excepcional interesse ótico: delimitadas por linhas retas ou arqueadas que se entrecruzam, sucedem ou recortam, as formas coloridas dos quadros de Aldir fazem com que suas obras pulsem ou palpitem, como seres vivos.
Muito recentemente a busca incessante de Aldir por novos caminhos levou-o a pintar telas que não mais se destinam a ser penduradas em paredes, porém dispostas diretamente no chão. Aparentemente simples, tal inovação subverteu, bem ao contrário, a visão que durante séculos o observador vinha tendo do suporte pictórico, visto como olho e pintura não mais se posicionam face a face. Passando a formar um ângulo de 90º, o olho já não tem a tela diante de si, mas sob si.
Por outro lado, como pode livremente caminhar pela tela, o que implica em pisá-la, isso gera um constrangimento no observador, acostumado durante milênios a encarar obras de arte como dotadas de uma aura, de uma sacralidade que as transforma em objetos quase místicos.
É assim Aldir Mendes de Souza – criador e inquieto, jamais satisfeito com os excelentes resultados que tem colhido em todos esses anos de uma carreira por todos os motivos ilustre.
> Campinas, 2003
O fazer de Aldir sugere o de um artesão, com pretensões de alquimista: os pigmentos são por ele decantados, o óleo lhes é extraído e a matéria resultante, capaz de abrigar a luz – com sua leveza interna é a matriz de seus retângulos cromáticos, um procedimento que espacializa a cor, aliando a ordem do geômetra ao movimento sensual do colorista.
Dos frutos e folhas do cafeeiro ao cafezal, do campo de plantação às nervuras ortogonais da moderna cidade, e enfim à síntese definitiva sem objeto nomeável, sem linha do horizonte que a limite: podemos desse modo entender o desenvolvimento da poética de Aldir Mendes de Souza, ao longo do tempo. Poética que não se deixa aprisionar pela tirania dos temas, nem pela ilusória dicotomia entre figuração e abstração. Trata-se, em sua essência, de uma obstinada procura para responder a uma questão básica: como compreender e traduzir plasticamente o espaço?
Preocupação moderna por excelência, desde Leon Battista Alberti e o Renascimento que se seguiu a ele, o espaço encontrou historicamente na perspectiva sua grande técnica tradutora. No caso de Adir, a vertigem controlada de suas paisagens silenciosas é gerada pela perspectivas dos retângulos, as unidades mínimas de sua pintura – instaurando uma geo-metria (literalmente “medida da terra”) que paradoxalmente sugere não a frieza matemática da linha e da pura forma, mas o encantamento das plantações que povoam os terrenos cultiváveis. Espaços pulsáteis são criados, como os relevos da epiderme da terra, e tudo se deve a um elemento sensível por excelência: a cor.
O fazer de Aldir sugere o de um artesão, com pretensões de alquimista: os pigmentos são por ele decantados, o óleo lhes é extraído e a matéria resultante, capaz de abrigar a luz – com sua leveza interna é a matriz de seus retângulos cromáticos, um procedimento que espacializa a cor, aliando a ordem do geômetra ao movimento sensual do colorista. Não sem propósito, o artista dá os nomes de Big Bang e Buraco Negro a algumas de suas telas: ao olharmos para elas, a sensação de expansão e de retraimento para um único ponto invadem nossa percepção. Como pulsações de diástoles e sístoles do coração dos quadros, usando-se uma metáfora médica.
Com a exposição Aldir – Obsessão pela Cor, e com o lançamento do livro sobre o artista, prefaciado por Edla Van Steen e textos críticos de Frederico Moraes e Olívio Tavares de Araújo, inaugura-se o Cultural Blue Life, um novo espaço que pretende abrigar exposições, cursos e eventos relacionados ao universo das artes, contribuindo igualmente para sua difusão.
> Julho de 2003
Como em um jogo de computador, Aldir cria becos sem saída, corredores espelhados, caleidoscópios, sumidouros inspirados nos enigmas da astronomia e da própria existência humana.
> Junho de 2004
Na contramão de dogmas ortodoxos como o concretismo, Aldir Mendes de Souza iniciou sua obra nos anos 70, construindo um legado que garantiu seu lugar entre os grandes da pintura nacional.
> Dezembro de 2006
Aldir Mendes de Souza understood very early that the new media constitute as importante cultural force. In the seventies, while mosto f his contemporaries duplicated models in painting and conceptual art, Aldir developed a unique an innovative body of work with x-rays and other media.
> Janeiro de 2007
O que rege a sequência cronológica da pintura de Aldir é uma coerente direção à geometrização do espaço.